1. Rossellini: “O neo-realismo consiste em acompanhar um ser em todas as suas impressões e descobertas”. Sobretudo descobertas.
2. Panorâmicas
As panorâmicas sobre a paisagem desolada em Accattone não correspondem a um ponto de vista, elas abrem a possibilidade de qualquer ponto de vista, são o horizonte de ; elas estruturam o filme como uma experiência de desvelamento do mundo: progressiva, temporal, possível.
3. Flânerie
Accattone é um flâneur, figura constante no cinema de Pasolini (o Cristo profeta do Evangelho, Édipo à procura de Tebas em Édipo Rei, Medea a fugitiva com o Velo de Ouro em Medea, a Emilia de Teorema, o canibal de Pocilga, os viajantes de Mile uma noites.
4. Iconicidade
O princípio de construção figurativa em Pasolini é icônico - suas maiores influências são pictóricas, não cinematográficas: Mantegna, Pontormo, Masaccio, Duccio, Masolino, pintores do início do Renascimento; ele dizia que aprendeu a pensar figurativamente tendo na cabeça os retábulos medievais e os santos dos altares, não a tela de cinema.
Frontalidade e tridimensionalidade: O uso da luz fortemente contrastada (chiaroescuro) e da imagem plana em Accattone realça esta dimensão icônica da imagem: tridimensional, escultórica.
Outra característica forte, aí presente em todo o seu cinema, não apenas nos primeiros filmes: frontalidade. Caráter frontal do ícone: O divino se revela e se oferece para o crente. É uma dádiva ( algo que se dá, que se manifesta, não inventado pelo homem).
5. Danação e Redenção em Accattone
A Danação é representada pela recorrência (repetição) dos mesmos ambientes, peregrinação circular do personagem e da câmera ( Accattone de olhos fechados, seguido pela câmera num movimento que descreve um círculo), os dois travellings repetidos com as mulheres, Ascenza e Stella, ou a repetição do encontro com o cortejo fúnebre, do sonho e da vida real .
A princípio, temos a contraposição das figuras da Danação ( circularidade e repetição) no plano e contraplano dos dois encontros principais com Stella: epifanias.
7. Morte e montagem
Em seu texto Plano seqüência ou o cinema como semiótica da realidade, Pasolini fala algo interessante. : a montagem, à semelhança da Morte na biografia individual, é o que permite a criação de um sentido para o filme; o cinema, que genérica e potencialmente pode ser visto como um plano seqüência infinito, se particulariza e ressignifica “em cada filme” através da montagem, assim como a Morte é a instância que permite que todos os nossos atos e afetos possíveis se estabilizem e definam em relação à totalidade possível da vida. Se a Morte é um tema recorrente no cinema de Pasolini- assim como o é para as culturas e experiências mítico-arcaicas que ele tenta representar-, em Accattone ela tem o significado até certo ponto positivo de uma reconciliação do indivíduo com sua própria história.
Textos chaves:
Empirismo herético, Pasolini.
Escritos corsários, Pasolini.
O plano sequência ou o cinema como semiótica da realidade, Pasolini.
Pasolini's Roma: stupendous, miserable city, John David Rohdes
Idéia, Erwin Panofsky
Confronting images: Questioning the ends of a certain History of art, Georges Didi-Huberman
Histoires de peintres, Daniel Arasse
Pasolini's semiotics and a cinema of the sacred, Adelmo P. Dunghe
Pasolini: il cinema in corpo. Atti impuri di un eretico, de Goffredo Fofi e Enrico Ghezzi
Pasolini's forms of subjectivity, Robert Gordon
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